"É através da música que construímos outros imaginários"
- projeto1950
- 26 de jun. de 2019
- 3 min de leitura
Atualizado: 2 de jul. de 2019
Desconstruir esteriótipos sobre a população marginalizada é um desafio no Brasil, mas a música pode ser um dos caminhos mais bonitos para essa tarefa
Ela acorda e se prepara. Levantar. Pegar ônibus. Estudar. Pegar ônibus. Deitar. Essa é a rotina diária dela todos os dias, cinco vezes por semana. 20 vezes por mês. 260 vezes por ano. Diante de sua rotineira vida, ela pega seus fones de ouvido na mochila e pluga no celular. Da casa para faculdade. Dos intervalos até as aulas. Da faculdade para casa. A música está com ela na pausa desses 374.400 minutos de sua costumeira vida.
De repente uma música começa a tocar, ela dizia: “Uma foto, uma foto, estampada numa grande avenida [...] A placa de censura no meu rosto diz não recomendado a sociedade”. Ela ama. Vira sua nova música preferida. Ela não para de ouvir, a canção cai no modo repetir por uma semana. No quinto dia de seu quase ritual diário ela decide ver de quem é essa música. Ela lê “Caio Prado - Não Recomendado” e joga assim no Google. Lá um dos links é para um entrevista que ele postou no facebook que dizia: “Como é ser preto, gay e pobre fazendo música? [...]
Ela finalmente percebe. A música não é apenas uma música. É uma denúncia. É político.
Em um país em que a cada 20 horas um pessoa Lésbica, Gay, Bissexual, Transexual, Travesti, Intersexual, Assexual e mais, é assassinada, fazer música é uma revolução. Os dados são do relatório do Grupo Gay da Bahia que fala sobre a violência contra a população LGBT. 420. Foi esse o número de pessoas LGBTs mortas em 2018, números da Revista Lado A.
“Às vezes as pessoas costumam colocam a música como mero entretenimento, mas a música não tem como está desligada da política. De tudo, na verdade. Tudo que a gente faz, de certa forma, está ligado à política. Nossos discursos tem essa carga muito forte, dependendo da linguagem que estamos usando”. Quem disse isso foi Iêda Figueiró, música e estudante da pós-graduação em antropologia.
Figueira Infinita é a cantora de Iêda, uma artista travesti que é a estudante da pós. “Sinto que é a música é uma forma de não me calar. Em uma sociedade que tenta me de diversas formas calar, essa foi a forma que achei para não me calarem, de me expressar”, contou Iêda.
Sendo a primeira trans no programa de mestrado de antropologia, Figueiró fala do poder simbólico dessas junção de palavras. “De certa forma eu represento um grupo que foi excluído. Então eu não sei o que é ser trans, o que é para mim e para minhas amigas pode ser muito diversos para as outras pessoas, eu não posso falar pelas outras pessoas”, contou Infinita que palestrou, na Universidade Federal de Goiás, para o UFGInclui no dia 18 de maio.

Ver pessoas trans em veículos midiáticos tem uma força de representatividade. Desconstruir a ideia de que pessoas trans apenas trabalham através de seus corpos, como a prostituição, se faz necessário cada dia mais. O Brasil é o país que mais mata a população trans, mas é a que mais consome pornografia trans.

A vitória do dia 13
No dia 13 (quinta-feira) de junho o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que a homofobia agora é crime. Por 8 votos à 3, os ministros do STF fizeram o decreto de que preconceitos relacionados a gênero e sexualidade é, por lei, punível. O crime está enquadrado na mesma Lei Racial (7716/89).
De acordo com a ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), o número de assassinatos de pessoas trans em 2019 já é de 62 pessoas no Brasil.
<<Veja o mapa da violência da Antra: https://www.google.com/maps/d/u/0/viewer?mid=1FzwzQghwym_DzFydXGj6onWYfFky1NKy&ll=-9.765147591767413%2C-52.260645753125004&z=3 >>
Em um país em que números como esses são alarmantes, a arte se faz como salvação. "Toda forma é resistência", a frase título do Projeto 1950 é de Johnny Hooker, que foi ouvida durante um breve discurso em seu show em Goiânia, em que o mesmo cantor falava da importância de pessoas LGBT fazerem arte, pois nela é possível fazer manifestações.

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